quinta-feira, 2 de setembro de 2010

NEVERMORE, UM PASSEIO COM ALLAN POE.

por Andrew Knoll



Diário de Bordo.
Piraquara, Centro, Casa da Cultura, 16h30.
Último dia de filmagens do excerto BERENICE, para o projeto NEVERMORE.

Cara, como esta cidade têm luz. Que dias luminosos estão sendo estes.
Sol branco Parece a costa grega.
Muita luz.
Muuuita luz.

Estou lembrando agora que hoje, após o almoço, quando estávamos na
rua conversando, em frente à locação, veio um senhor já nos seus
longos anos, de cabelos e bigode todo brancos, e os cabelos e o
bigodes, e a sua pele tornaram-se ainda mais brancos quando ele saiu
da sombra, me viu e veio ter comigo, sorrindo, e disse, ao passar
pelas minhas costas, dando um tapinha no meu ombro:
"Bigodinho à moda antiga, hein?! Parabéns!"

Bruno e Merry ficaram só rindo. E o Bruno ainda protestou: "Pô! E o meu?" rsrs
 *
E eu que vim conversando sobre AERONÁUTICA com o motorista da Van?
E ele colocou MADONNA pra agradar as meninas na van!
O cara não é demais?
*
Olhando estes morros atrás da casa do Marcinho, penso:
Nossa, a praia ‘stá mesmo logo ali! rsrs
E eu aqui, de traje de época, colete, casaco, verificando se este
relógio de bolso é mesmo de ouro!
*
Ssshhhhh...
Silêncio
Deitado no chão,lendo e re-lendo o conto que estamos filmando, vejo
Maurício Baggio (dir. Fotografia) sendo perfeccionista e
experimentador na montagem de luz, desde o início.

Neste instante, especificamente, montando a luz para a cena em que a
personagem BERENICE é mostrada em pé, dentro de um caixão, após sua
suposta morte. Rafaella Marques me surpreendeu mais uma vez (óbvio)
com a profundidade e o despojamento de sua interpretação. É realmente
impressionante e delicioso vê-la executando com maestria, precisão os
vários estados de BERENICE.
Indo da vivacidade jovial par a doença, seu corpo contorcendo-se
febrilmente, ao mesmo tempo em que se percebia sua total sintonia com
o tempo do take, a respiração coordenada, o comprometimento.

- Sou mesmo o maior “paga-pau” desta menina! A Rafa é a irmã que tá no
coração em definitivo.

A equipe de arte produziu um dos ambientes esteticamente mais bonitos
com que eu já me deparei: simples, um tanto soturno, um tanto
requintado, um tanto sóbrio. Parabéns Fabio Allon (dir. Arte), que
esteve até ás 3 da matina finalizando o GOL A GOL, nosso outro longa,
dormiu muito pouco, e está de corpo e alma dedicado a este trabalho.
Tenho certeza de que os outros excertos a serem filmados ficarão
fantásticos - nos dois sentidos, afinal... é Allan Poe, rsrs

E creio que Marco Nowak está mesmo se deliciando com a sua Canon EOS
7D. Ele fotografa a todo tempo, com precisão, e discrição. Muitas
vezes só ouvia os cliks de sua câmera, e nem mesmo sabia onde ele
estava, em meio ás sombras daquele casarão de sonho, ou de pesadelo,
no caso de NEBERMORE.
Velas, espelhos, brumas que subiam ente à escada que dava para não sei
onde... não tem fim, me parece. Sua subida. Só reparo, daqui onde
estou, na intensa luz banhando seu corrimão, seus degraus, onde, dali
a pouco, Rafaella - BERENICE vai descer, nos dando mais uma vez um
grande show, e vamos todos prender a respiração novamente, tenho
certeza.

 Vejo Helena (Assist. de Câmera) e Nica Braun (continuista) rindo de
modo natural na sua meninice natural, de algo que só elas sabem,
exalando suas perspicácias de raciocínio sempre afiadas. Pode baixar
toda a luz que aqueles olhos não deixam ninguém perdido.

Vejo-as, mais Eugênia (assist. de direção), Bruno de Oliveira (assist.
de direção), por momentos, saindo de suas funções primordiais, e
auxiliando também em questões da equipe de arte, carregando objetos,
até mesmo puxando um ou outro cabo de eletricidade, e me sinto
comovido, ao constatar o espírito de equipe que paira no ar, e que
torna o trabalho ainda mais bonito.
Sei que o orçamento é curto, e não por isto, vejo as pessoas ainda
mais comprometidas com o seu fazer artístico.
E me emociono. Me emociono mesmo.
Simplesmente porque é bonito, porque conheço estas pessoas, porque sei
de sua dedicação, e de sua vontade.

Paulo Biscaia há pouco não estava sentindo-se muito bem, e se abriu,
não guardou para si. Um gesto generoso.
E mesmo assim, não vi sua aura de paixão esvair-se nem um único
instante durante as gravações.
Tenho a impressão, vendo-o agora daqui do canto, com esta lâmina de
luz que quero torcer, de que ele sabe exatamente de antemão como irá
conduzir o trabalho.
*
Após esta cena com a Rafa, será a minha (uma das últimas), em pé, em
frente ao caixão, fitando pela primeira vez BERENICE morta.
Estou a refletir na criação deste PERSONAGEM, E NO MODO DE COMO ELE
AGIRIA NESTA CENA, e chego à seguinte conclusão: Sim, uma lágrima
deverá rolar por BERENICE, ainda que não seja uma lágrima ligada a um
sentimento romântico, mas sim, muito mais relacionada ao fato de que
àquele objeto de desejo de EGEU, configurado naquele momento na figura
de BERENICE, foi-se. Porque foi-se o estado em BERENICE que fazia
tomar a atenção de EGEU. Não, ele não deveria permanecer na sua
imparcialidade altista. Um sinal deveria ser emitido. Uma lágrima
deveria rolar. Mas uma lágrima fria, sem sobressaltos, de um rosto
impassível, sem comprometimento, quase como um estado automático, como
quando KASPER HAUSER sente pela primeira vez o calor da chama da vela
contra sua pele, perpetuado pelo observador atento á sua condição.
Neste momento, o observador seria ele, e ficaria atônito até mesmo com
o fato uma lágrima rolar. A lágrima rola, pelo fato do objeto de
estudo, e da situação não mais o prenderem no estado de PERMANÊNCIA DE
ATENÇÃO.

É isto que pretendo propor no momento da cena.
Se o diretor não gostar, refazemos. É isto.
Minha ligação com o Paulo me permite certas liberdades de
experimentações, e a ele lhe sou grato por isto.

*
Também não deixei de pensar no Dani (o piazão foda!!!), que iria ser o
"titular" de Berenice, e não pôde, por questões de outros
compromissos, e que havia também me indicado, ficando assim, segundo
suas próprias palavras, "com o coração um pouco menos apertado".
Espero honrá-lo com o melhor do meu trabalho.
Obrigado Dani!
“Têm que fazer, têm que fazer!”
Ele bem poderia ter indicado o VIGOR MORTENSEEN, neste trabalho com a
VIGOR MORTIS.
Nada mais justo não???
*
VALEU PRODUÇÃO
VIVI, TESSEROLI
FUI SUPER BEM TRATADO

VALEU MARCE
ANDRÉ, FRAGOSO
ARRASARAM DEMAIS
Acho que fiquei bonito.
Não fiquei? rsrs
*
Para mim, além de ser um prazer, há também a imensa satisfação de
trabalhar com um grupo que, assim como a PROCESSO, está também "no
coração".
Longa vida VIGOR MORTIS
*
LOVE
KNOLL

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